pelos coletivos
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fazendo sol, coloco o rosto pertinho da janela para respirar o cheirinho de mar por todo o percurso até o trabalho. chego lá com o rosto salgado.
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vejo a cara das pessoas nos pontos... pensando, esperando, cansadas, sentadas.
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entra vendedor, sai vendedor. entra pregador, grita Jesus isso, Jesus aquilo... tchau “brigada”, Jeová abençoe...
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entra mãe com 4 filhos e dois braços pra socorrer todo mundo, carregar sacolas de todos, passar na roleta, trocar dinheiro e ficar feliz porque está indo à praia.
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entra o entregador cheio de flores, desequilibrado. entra o boy, cheio de envelopes. entra a baiana cheia de cestos e cheiros. entra um monte de velhinhos esperando sentar em seus lugares reservados. esperando...
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entra menino de rua cheio de cola na cabeça, ameaçando a todos, espumando, praguejando... não consegue nada. salta e vai aterrorizar em outro ônibus.
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entra também o cara fedorento e senta do seu lado. e você, fresquinha pelo banho, não entende como uma criatura às 6:30 não tem olfato para perceber isso.
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tem estudante com farda de colégio de rico que joga um monte de coisa pela janela. e cospe também!
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tem homem que senta de perna aberta, toma muito mais que a metade do assento e nem ‘tchum’... e aí, você junta paciência e vai sentar em outro lugar.
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a janela do ônibus é um cinema, e dentro dele a vida passa que nem lá fora.