Junho

Junho tem minha infância.

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tem sacolinha cheia de fogos para soltar acendendo na brasa da fogueira no terreiro do sítio.

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tem camiseta com milho pintado e bordado por mainha para usar com saia de chita.

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tem painho segurando na minha mão por medo de me deixar soltar rojão sozinha.

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tem tanta, mais tanta comida típica na mesa que no dia seguinte era fila de neto na porta do banheiro.

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tem confusão porque um pegou fogos da sacolinha do outro, porque um soltou cobrinha no pé do outro, porque soltaram cordão cheiroso na casa (aaarghh!).

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tem toda a família reunida em volta da fogueira enorme tomando licor, chupando laranja, se acabando no amendoim e nas espigas de milho verdinhas, assadas na hora, catadas mais cedo no quintal.

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tem as estrelinhas que subiam por causa da madeira estalando em combustão. elas se juntavam com as do céu. no interior o céu tem muito mais estrelas que na cidade, sabia? - a gente deitava em cadeiras tipo de praia e ficava até tarde no calor do fogo olhando a imensidão.

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Junho ainda tem tudo isso. só não tem mais a voinha e o voinho, que sempre fizeram isso tudo acontecer. que amavam a casa cheia de filhos e netos.

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dia 23 estou lá, com o resto da família, voltando à minha infância.

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Tupynambá, Yara. Mastro de São João , 2000 acrílica sobre tela 80 x 100 cm.

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